Grazielly: “tive depressão gestacional e pós-parto em minha gravidez”

Muito se ouve falar em depressão pós-parto. Essa condição assola muitas mamães (e muitos papais também) após a gravidez. Algumas mulheres, mesmo tristes ou desanimadas, conseguem prover os cuidados que um recém-nascido necessita, mas outras não. Já a depressão gestacional pode acontecer em qualquer momento da gravidez e os motivos podem ser dos mais variados: desde uma gravidez não desejada até problemas financeiros. A Grazielly conta em seu depoimento como foi lidar com essas duas situações.

Leia o relato completo da Grazielly:

“Com aproximadamente 10 anos de idade eu costumava ficar sozinha em casa. Meu pai trabalhava, minha mãe fazia supletivo e eu sou filha única. Num desses dias, um “primo” chamou me portão pedindo folhas do jardim para a fazer um chá, pois sua esposa estava meio doente. E então, eu abri o portão para que ele pudesse pegar as folhas. Mas não me dei conta de que não eram folhas de chá que ele queria. No caminho da garagem até o jardim, ele simplesmente me puxou pelo braço e tentou me beijar. Eu afastei ele tremendo de medo, ouvindo-o dizer que aquilo era gostoso e que eu não precisava ter medo.

De novo ele se aproximou, mas dessa vez ele passava as mãos nos meus cabelos deixando meu corpo bem próximo ao dele. A minha reação foi gritar. Eu gritei muito, até que meus vizinhos que estavam na rua – graças a Deus – foram ver o motivo e me ajudaram. Imediatamente, eles colocaram meu primo para fora aos socos e pontapés. Lembro que minha mãe ficou louca e foi atrás da família para contar o que tinha acontecido.

O corpo feminino não é um convite

TODOS os meus familiares não só desacreditaram, como disseram que eu, uma criança de 10 anos, era errada por estar sozinha em casa e usando roupa justa. Sim, uma menina de 10 anos tinha que ter maturidade para entender que suas roupas são erradas e que estar em sua casa trancada, te faz errada. Mas o homem não, porque o homem sempre está certo! Tão certo que hoje o mesmo indivíduo está preso. Ele fez exatamente a mesma coisa com outra prima – da mesma idade que eu tinha na época. Meus tios levaram adiante, coisa que nós, leigos, não fizemos. Passar por abuso seja ele qual for é muito traumático. Antes de mais nada, a sociedade precisa entender que a roupa que eu ou qualquer mulher usa, não é convite para homens se aproveitarem de nós. Muito menos de crianças. 

Tive depressão gestacional durante minha primeira gravidez

Aos 18 anos eu engravidei e fui diagnosticada com depressão gestacional. Eu me acabei! Passei a minha gravidez inteira usando roupas da minha avó, mal penteava o cabelo ou saia para qualquer lugar. Dentro da minha cabeça eu estava gerando uma vida, mas parecia que minha vida tinha acabado. Eu engravidei sem ter nenhum tipo de relacionamento com o pai do meu filho e por isso, o mundo todo resolveu me apontar como se eu tivesse cometido o maior dos pecados. Eu optei por não entrar numa relação e segui sendo mãe solo.

Ser mãe nova pode soar como irresponsabilidade para algumas pessoas, eu sei. Eu estava aprendendo, era uma mãe em formação, tinha um misto de sentimentos dentro de mim sem igual. Me lembro bem, quando o Gustavo nasceu e olhei nos olhos dele, eu me renovei. Deus me deu um presente único que foi o dom de gerar uma vida e eu passei oito meses rejeitando esse dom. Rejeitando a mim! Desse dia em diante, eu me dediquei somente a ele e ao meu trabalho.

Passei por coisas que não desejo a ninguém. Houve vezes em que pensei em sumir, pois estava cercada de pessoas que tinham o prazer de falar mal da minha vida, sem se importar com o meu sentimento. E todas as vezes que a vida me batia eu orava. Sim, eu orava pedindo à Deus para que me protegesse, afinal, disposição para bater de frente eu sempre tive.

Tive depressão pós-parto em minha segunda gravidez

Em 2016 eu me casei. Meu esposo é perfeito comigo em todos os sentidos. Passados alguns anos eu engravidei novamente e nessa gestação eu me aceitei melhor, porém, passei muito mal durante a gravidez e perdi muito peso. No puerpério eu fiquei tão mal comigo que não quero nem lembrar. 

Fui diagnosticada com depressão pós-parto. Eu odiava meu corpo, odiava o que tinha me tornado e me sentia horrível. Com muita paciência, o meu marido – que é Personal Trainer – me convenceu a voltar a treinar em casa. Fiz as primeiras semanas de treino e decidi postar nas minhas redes sociais essa recuperação, na tentativa de encontrar outras mulheres que estavam passando pelo mesmo problema que eu e assim, criar uma rede de ajuda. Fazia todos os treinos em casa e falava dos benefícios das séries que estava executando. Com isso, vi meu Instagram crescer absurdamente. E foi assim que eu conheci as mais diversas histórias de mães com depressão pós-parto e me recuperei um pouco mais.

Saiba o que é e quais são os sintomas da depressão pós-parto

Consegui superar a depressão, mas ainda não me sinto feliz com meu corpo

Se eu disser que estou completamente feliz com meu corpo, eu estarei mentindo. Não uso roupa curta, nunca uso shorts e muito menos saia. Na escola eu era a “Olivia Palito testuda, pau seco, filé de borboleta, só o pó” dentre outros apelidos maldosos.

Ainda carrego um pouco desse complexo das minhas pernas finas dentro de mim. Quando fui fazer minhas fotos, eu fiquei pirada. Um frio na barriga me tomava por completo. Eu nunca tinha feito algo que mostrasse tanto o meu corpo e sempre me julguei por não conseguir me manter dentro do que eu considerava perfeito. Na época das fotos, eu me sentia magra demais, estava sem malhar há alguns meses e ainda tinha o fator peito vazando, por minha bebê estar longe de mim sem mamar.

As fotos me ajudaram a reencontrar a mulher que eu era antes da gravidez

Ao longo dos cliques, fui vendo as fotos e me sentindo mais confiante em continuar. Foram muito mais que fotos, foi muito mais que um ensaio. Fazer isso por mim, foi como um recomeço para a mulher que estava esquecida aqui. Ao ver as fotos eu fiquei maluca. Não só pelo profissionalismo, mas pelo que vi e pelo que me tornei. 

Então, se me cabe um conselho a você que está lendo esse depoimento nesse momento… Se você é mãe recém-parida, mãe que sente esquecida, mãe depressiva, aí vai o conselho: se dê uma experiência que possa ajudá-la a se enxergar como MULHER. Você, assim como eu, precisa enxergar que, por trás do título de mãe, existe a mulher que você foi. Se veja como uma mulher real na frente do espelho outra vez, você precisa encontra sua sensualidade. Isso é libertador! Eu posso. Você pode. Se permita!”.

Esse depoimento foi inteiramente escrito pela Grazielly e você também pode compartilhar sua história pelos comentários. Nós aqui gostamos de boas fotos e boas conversas, mas, antes de tudo, lembre-se: toda pessoa merece respeito e empatia ❤.

Pegue o cafézinho e se acomode na cadeira, ainda tem muita história para você ler aqui.

Você também pode seguir a Grazielly no Instagram. Ela vai amar te conhecer.

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